Um dia de cada vez

Hoje eu chorei na hora do intervalo por razões que nem eu sei. Subi as escadas com o peso nas costas e passei as últimas três aulas sendo apenas corpo presente. A cabeça latejava e o corpo pedia arrego. Cheguei em casa e resolvi não voltar para a escola, mesmo que a aula da tarde fosse sociologia. Deitei e simplesmente dormi.

Acordei com a mesma sensação de insuficiência. De coisa faltando aqui dentro. De cabeça cheia. De monte de coisa acontecendo. Informação demais, eu de menos. 

Tomei aquele banho demorado com direito a cantoria. A cada gota sentia meu corpo se revigorando e a alegria estava estampada no rosto. Até cogitei ir pedalar hoje de novo. Mas quinze minutos após, a tristeza já havia se instaurado novamente.

Deitei. A cabeça latendo. Se o coração pudesse falar, ele gritaria. O pânico foi se instaurando aos poucos e quando vi, já estava perdia nas minhas tristes fantasias.

Vestibular final do ano. Vida social. Prova de matemática que nem chegou. Recuperação de física que com certeza eu vou. Aquele garoto que tem sido uma incógnita na minha vida. O que eu estou fazendo no final de tudo? 

Mas vamos lá... estudar para o vestibular. Meu horário de hoje diz que é dia de matemática, história e biologia. Vamos tentar porque hoje tem história. 

Não cheguei nem na metade da matemática e voltei pra cama.

Acalma o coração. 

Tudo bem suspender uns dias de estudo, uns dias de farra, uns dias de festas, pra cuidar de si. Tudo bem ficar mal e não querer levantar da cama. Tudo bem não saber o que quer da vida. Tudo bem sentir esse frio na barriga por uma pessoa. Tudo bem não ter o controle de tudo.

Um dia de cada vez, menina. Um dia de cada vez.

A cabeça ainda lateja. A confusão vem se tornando cada vez pior. O grito ecoa no vácuo profundo que faz morada em mim. Mas um dia de cada vez. Um dia de cada vez. 

Estar bem consigo mesma é mais importante que passar no vestibular.