Eu não sei descrever tamanho desgosto ao entrar nas redes sociais e ser lembrada de uma jovem sendo estuprada por vários homens, é uma sensação de ódio e nojo que sinto ao mesmo tempo. É por causa desse crime terrível que foi postado e comentado pelos agressores que eu resolvi parar de adiar e falar de uma vez por todas sobre a cultura do estupro. Eu já planejava fazer esse post esse fim de semana, mas não consegui esperar tanto. Um dia antes de o caso da menina ter se espalhado nas redes eu tinha escrito uma redação sobre a cultura do estupro, quando acordo no outro dia e entro no Facebook e vejo todos comentando indignados sobre o ocorrido, ai não tinha mais motivo de espera, chegou a hora da gente falar do que tá acontecendo com a nossa sociedade. Se prepare, não vem coisa boa por ai...
Para melhor explicar o termo "cultura do estupro" encontrei uma explicação simples no site Buzz Feed que diz isso:
"Rape culture” is a culture in which sexual violence is considered the norm — in which people aren’t taught not to rape, but are taught not to be raped. The term was first used by feminists in the 1970s but has become popular in recent years as more survivors share their stories."
Traduzindo, obtemos essa definição:
"A “cultura do estupro” é uma cultura onde a violência sexual é considerada norma – ou seja, onde as pessoas não são ensinadas a não estuprar, mas sim ensinadas a não ser estupradas. O termo foi usado pela primeira vez por feministas nos anos 70, mas tornou-se mais popular nos últimos anos, com mais sobreviventes compartilhando suas histórias."
Esse termo surgiu quando feministas nos anos 70 começaram a chamar atenção pra violência sexual doméstica, estupro e incesto. Tudo isso era algo que as pessoas acreditavam que não aconteciam, mas olha, aconteciam muito e continua a acontecer.
Outra característica da cultura do estupro é normalizar o abuso sexual. Como assim?
Hoje em dia os casos de violência sexual são tantos e são tão comuns que a mídia resolve simplesmente ignorar ou dar pouco foco para a questão. É muito melhor mostrar sobre a nova ponte construída do que uma garota que foi violentada voltando da faculdade a noite ou uma garota bêbada demais que seu Não foi interpretado por um Sim.
Culpar a vítima pelo ato é outra característica, colocar desculpas no vestuário da vítima, do fato dela estar estar desacompanhada a noite ou pela sua vida sexual e seus parceiros. Quando você culpa a roupa da mina você cria uma régua têxtil onde existe um tamanho certo para você não ser violentada, quando você fala dela estar sozinha você infringe o direito de ir e vir e lembrando: TODO cidadão tem esse direito. Por fim, quando você julga a vida sexual da pessoa dizendo que "mais um" não iria fazer diferença ou julgar seu parceiro é algo tão imoral quanto nojento. O termo estupro corretivo surge aí, quando homens acham que seu pênis pode mudar a opção sexual de uma mulher lésbica. Colega, aceita que nem tudo gira em torno da sua masculinidade e seu pênis.
A idealização da mulher é um problema sério também, quando você "cria" a mulher perfeita na sua cabeça você começa a acreditar que as outras que não encaixam não merecem seu respeito e começa a violentá-las pelo simples fato de elas não servirem ao seus padrões. Um absurdo total, não é?
Outra coisa é objetificação da mulher, colocar a mulher como objeto de prazer masculino é algo tão horrendo que não dá nem pra explicar direito. É mais ou menos assim: o homem vê as mulheres como uma máquina de prazer. Quando ele deixa de enxergar suas qualidades e defeitos, deixa de conhecer e simplesmente julga pelo corpo e vai lá e violenta.
Nisso a gente concluí que a mulher é vista como algo sem vontade própria, sem voz pra se impor e tem que obedecer as regras masculinas (ser feminina, falar baixo, aceitar ser vista como objeto sexual...) e se não obedecer tem que aceitar quietinha e sem reclamar de tudo que vai sofrer.
O assédio faz parte dessa cultura. O "Fiu Fiu" "Gostosa" "Ô lá em casa" fazem parte das asquerosidades que temos que ouvir quando saímos de casa. Devemos aceitar? NÃO! Devemos levar como elogio? JAMAIS! Devemos continuar vivendo nessa cultura do estupro? NEM PENSAR!
Não é só com mulheres que há casos de estupros, há com homens e no meio disso tudo há com crianças também. O caso de soldados da ONU oferecendo comida em troca de sexo oral é já saiu na mídia e hoje não vemos discussão sobre isso. Como podemos ter fé na humanidade quando pessoas que estão lá pra fazer o bem estão fazendo o contrário?
Ficou curioso pra ler sobre os soldados? Joga no google ou leia por aqui: (http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/03/sexo-oral-por-biscoitos-as-denuncias-de-abuso-sexual-contra-soldados-e-funcionarios-da-onu.html)
A cultura do estupro normaliza tudo isso que foi citado acima e cada vez traz mais vítimas a cada dia. Se imponha e acabe com essa barbaridade. Discussão sobre igualdade de gênero, praticar cada vez mais o respeito ao próximo são formas de finalizar com toda essa corrente que se arrasta na nossa sociedade.
Vamos acabar com as normatizações citadas acima, ninguém é obrigado a nada, muito menos a ser violentado e assediado.
Vamos redefinir o que é normal na nossa sociedade.


O pior é quando se vai na delegacia denunciar e as pessoas perguntam o tamanho da sua roupa, o que você estava fazendo na rua, porque você não tentou evitar... Já muitos relatos de mulheres que foram destratadas DENTRO DO LOCAL QUE DEVERIAM SE SENTIREM SEGURAS!
ResponderExcluirDe onde já se viu culpar a vitima? Já imaginou se quando roubassem o seu celular lhe perguntassem porque você saiu com o celular de casa? É uma pergunta meio óbvia, o celular é um telefone móvel, mas porque quando o nosso corpo é violentado somos questionadas? Sendo que nós somos cidadãs livres, que pagamos impostos, que temos nossas vidas.
A cultura do estupro é tão forte que muitas mulheres não só são apontadas como culpadas, como acreditam nisso!
A cultura de estupro no nosso país é tão normal que as pessoas que praticam acham que não tem nada de errado em publica-los na internet. A minha pergunta é: até quando?
Carol eu compartilho de toda sua indignação!
ExcluirNós pagamos nossos impostos, temos nossas vidas pra cuidar e precisamos ter que lidar com esse medo a todo momento de ser violentada. Tá tudo errado aqui no Brasil, sejamos verdadeiras. Se a delegacia começa a usar perguntas da cultura do estupro e fazer a vítima acreditar que saia curta dela teve culpa no abuso, eu já não me sinto mais tão convicta ao dizer que o Brasil é um país livre e hospedeiro. Que tipo de anfitrião culpa indiretamente a vítima e recebe de braços abertos uns políticos imorais como esse?