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02/12/2015

Linha Tênue


Gosto de intensidade, o extremo sempre me pareceu muito mais cheio de perspectivas, de possibilidades, de emoções. Gosto do grito, do esbravejo, do lançamento dos objetos à parede. Gosto do pranto ao escorregar pela porta fechada, gosto do olhar irreverente que se levanta em uma moldura de rímel borrado por lágrimas. Gosto do drama. Sempre foi assim.

Gosto da gargalhada escrachada, das sobrancelhas arqueadas, do olhar que fuzila. Gosto do medo desesperado e da segurança não tão inabalável assim. Gosto da paz, do silêncio, mas também aprecio o furdunço, a balbúrdia. Gosto da mudança de opinião repentina, acho monótona essa história de certezas irreversíveis. Gosto do rompimento de costumes.

Gosto de cores fortes que variam na paleta. Gosto de música alta, de refrães explosivos, mas me canso da tentativa enfadonha de chamar a atenção. Gosto da autossuficiência e também da coragem de voltar atrás. Gosto da aparência do orgulho e da irreverência, entretanto, emociono-me com seus bastidores delicados, fracos e doloridos.

Gosto da tentativa incerta, mas aprecio o cálculo, a preocupação. Gosto da força que há em toda fraqueza, e da fraqueza que há em toda força. Gosto do agora, de resoluções imediatas, o provisório me enerva. Gosto da lua cheia refletida no mar revolto, do nascer do sol no mato. O céu em uma mistura de breu e luz, quando não se é bem dia ou noite, angustia-me.

Gosto da linha tênue entre o bem e o mal, entre o amor e o ódio, entre o claro e o escuro, e vou além. Penso que é nela que a vida deve ser vivida, a equilibrista na corda bamba, oscilante. O marasmo do mediano me importuna, o morno me cansa. Gosto das extremidades, do cem por cento. Gosto do excesso de emoções. E talvez, por conta disso, eu tenha me tornado um.


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