Faz um bom tempo que não escrevo. Sim, mais uma vez faz um bom tempo em que não escrevo. E a cada vez que essa crise de ''faz um bom tempo que eu não escrevo'' chega, ela me pega de jeito e me leva ao fundo do poço. Me joga na cama, me faz chorar até desidratar, me enche de brigadeiro e enche minha cabeça de pensamentos como ''é melhor você desistir'', ''isso não é pra você'', ''o que você escreve, todo mundo escreve''. E então, eu perco a linha e continuo no contínuo chorôrô. Faz parte de toda crise. Mas a última foi indescritível. Diferente de todas as outras. E essa me pegou de jeito porque nem o brigadeiro conseguiu apaziguar.
O primeiro pensamento veio à mente como um rojão. Eu sou uma farsa. Sim, eu sou uma farsa. Tudo que falo, que acredito, que escrevo e que transmito não passa de uma mera hipocrisia, pois eu não coloco em prática. Falo de amor próprio, mas faz um tempo bom que esse não dá as caras por aqui. Pra falar a verdade, nem sei se já chegou a aparecer. Falo de ser feliz consigo mesma, mas não posso sentir uma carência que já procuro alguém que esteja disponível nem que seja por quinze minutos, para recitar um Soneto do Amor Total e depois partir. Falo sobre enfrentar problemas, viver sem dilemas, ter seus próprios esquemas; enquanto estou deitada na cama, começando mais uma série, com um prato de brigadeiro do lado e vendo o mundo passar pela janela do meu quarto.
Eu sou uma farsa.
Esse foi o pior pensamento de todas as crises. Me deu um golpe forte e eu nem sei se um dia vou me recuperar, mas se tô aqui é que algo aconteceu. E esse quase-milagre chama-se: amigos. Então desde já fica meu ''muito obrigada de corpo e alma'' para o ser que me disse algo que era mais ou menos assim: eu também dou conselhos que não sigo, mas isso não quer dizer que eu não acredite neles. Eu acredito no que falo, e se falo, é porque quero que a pessoa seja feliz. Se alguém conseguir ser feliz com isso, já vai me deixar feliz. Então não será uma tamanha hipocrisia.
Não, essas não foram as palavras exatas. Sim, foi algo regado de muito mais emoção e amor, pois a madrugada já dava as caras, e a pobre coitada foi pega no pulo quando liguei aos prantos. Mas foi de longe uma das coisas mais bonitas que já ouvi até hoje.
Por isso decidi que de hoje em diante não vou mais me importar. Tudo bem se você me conhece bem demais e sabe que por dentro sou pura carência, loucura, perdição, desespero e vários outros adjetivos que não vem a mente ao momento. Mas tudo o que falo aqui, ali, aí, são coisas que acredito, são coisas que quero sentir, quero ser, quero fazer, quero viver. E quero que você, seja lá quem for, também tenha esse prazer. Afinal, se um pinguinho de felicidade inundou seu coração com um pequeno verso sequer que tenha saído de minh'alma, já tá de bom tamanho para me transbordar do lado de cá.



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