Ano passado briguei com meu melhor amigo. Foi o maior drama. Foi quase uma semana de total abismo entre nós. E nesses dias nebulosos, meu dindo me enviou um link com o texto que fecharia o meu ano com chave de ouro. Um texto que falava sobre as mudanças que ocorrem em nossos amigos. Um texto que questionava como pessoas que faziam tudo juntas agora se encontram tão diferentes uma das outras. Tão afastadas. Tão cheias de afazeres que não podiam ser espontâneos como eram antigamente.
Esse texto me fez pensar e analisar tudo que tava acontecendo comigo. Como que eu, tão cheia de amigas a vida toda, sempre tão rodeada por várias pessoas que riam da mesma piada que eu, que cantavam as mesmas músicas que eu, me encontrava em uma situação de tão poucos amigos e brigada com o melhor amigo? Como?
Mas foi ai que eu enxerguei o que eu tentava ignorar há tempos: as mudanças.
As mudanças que começaram tão sutis que não importavam tanto na época. Um novo corte de cabelo ousado, a nova banda de rock, um vídeo novo no Youtube, um livro científico, um saída no sábado com um novo amigo do Facebook, uma nova escola.
Antes, todos viam o mesmo vídeo, falavam sobre a mesma série, mostravam uma banda legal pro grupo todo. Depois foi tudo se desmontando. Cada um fez um novo amigo, que apresentou um novo filme e uma nova anedota.
Foi tudo tão leve e ligeiro que quando vimos já estávamos separados. Cada um com seu novo grupo de amigos, com sua nova música preferida. Cada um com seu tipo de diversão.
Uns que queriam a participação do álcool, outros de debates políticos, outros simplesmente nem apareciam para contar do que gostavam.
Pois é, foi assim que eu vi meus queridos amigos indo cada um pro seu canto e suas novas diversões. Cada um escolhendo suas carreiras e seus novos gostos literários. Foi assim, com as mudanças, que eu enxerguei que eu mudei.
Do mesmo jeito que meus amigos descobriram coisas novas, eu descobri coisas novas. Lógico que eu demorei mais tempo pra ver isso. O ser humano gosta de apontar o outro e esquece de ver o seu eu. Depois que me dei conta de que eu não era a mesma, e que a cada dia, post, foto, texto, eu me revelava um pessoa diferente do que era há segundos atrás. E assim parei de penalizar tanto as novas atitudes dos meus amigos. Por que eu também mudei. E continuo mudando.
E se eu aprendi que tem uma coisa que ainda me faz chamar estas pessoas tão desconhecidas de amigos é o afeto. Porque foi a única coisa que restou pra nós. O carinho das antigas memórias, de rir ainda das piadas antigas a cada rodízio e relembrar daquele jogo de queimada. E no meio desse turbilhão de inconstantes mudanças a gente ainda se vê. Na esquina, no mercado, voltando do curso. A gente abraça, ri um pouco e se despede e fica aquela coisa no ar: o afeto.
E se tem uma coisa mais valiosa do que os amigos que éramos tão próximos, é a sensação que eles proporcionavam: alegria pelo simples fato de ter alguém ali com você rindo, gritando. Sendo seu amigo.
Sendo assim, não se espante se um dia você vê que aquele amigo de infância postou uma nova foto do Instagram com um novo melhor amigo. Tudo bem. São as mudanças. Mas, não se esqueça que você também mudou. E tem novos amigos. Novas músicas. Novos afetos.



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