De cabelos molhados, e enrolada uma uma toalha, ela encara o espelho. Quem poderia ser esta figura que existe através do vidro?
Faz um bom tempo que ela não faz isso. Não se enxerga, não se atravessa, não se adentra. Foge até mesmo de sua sombra se for preciso, apenas por não querer adentrar o abismo que é viver dentro de si. Ela não se reconhece.
Vê um rosto cansado e triste, muito diferente do que estava acostumada. Passa sua mão no vidro molhado, na tentativa de anuviar o que vê. Em vão.
Então todo seu corpo estremece. Ela sabe o que está por vir, ela tem medo, mas sabe o que está chegando. E quando dá por si se encontra aos prantos, com a sensação de que está sendo empurrada de um barranco. Falta-lhe o ar e um grito ecoa em meio ao caos criado naquele pequeno metro quadrado azulejado.
Está surda. Sua própria voz a tornou insensível a musicalidade da vida ao seu redor. Em suspiros e soluços, tenta se salvar de um oceano pessoal, que a afoga.
Respira fundo, lava o rosto. Esbarra em um ou dos produtos de cabelo que vão de encontro ao chão, enquanto tenta se acalmar. Em meio ao desespero pega a primeira coisa que vê, um pente vermelho sangue surge.
Cada movimento do pente em seu cabelo, uma braçada.
Com os cachos contidos e o choro já chegando ao fim, avista seu moletom.
Cada peça de roupa, um pouco mais de fôlego.
Voltar a vida é quase impossível. Os pequenos minutos dentro do recinto pareceram horas. Gotículas de água escorrem de seu cabelo ainda molhado e vão de encontro ao chão, onde se misturam com um emaranhado de fios que acabaram de cair. Criando assim, mais desordem e trazendo para fora de si o inevitável, uma bagunça sem fim.
Suas emoções flutuam pelo ar, misturadas ao vapor espesso. Sua cabeça pesa. Ela se desequilibra, se escora pela parede, e se deixa cair ao chão. Pelo menos o estranho do outro lado do vidro já não a vê mais. Ela se recompõe e se levanta. Luta pelo que sobrou de si mesma, e encara sua reflexão.
Foram apenas 30 minutos de puro caos e desordem. O reflexo no espelho só serve para mostrar o quão destruída ela se encontra. O choro agudo que volta com toda força só serve para dizer o quão sozinha se encontra. E toda a bagunça só serve para mostrar que ela chegou aos seus limites.



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