Você uniu-se ao outono

As folhas ameaçaram a querer cair e você ameaçou a querer fugir. Começou de leve, devagarinho. Primeiro fazendo um leve carinho como quem nada queria. Foi se afastando um pouco mais a cada dia e quando vi, você já estava tão distante que não podia voltar.

Mas insistente que sou, corri atrás, pedi para tentar de novo, disse que era só fase e que essa estação passaria. Cantei até mesmo Djavan, e você sabe como é difícil que eu entregue alguma de suas canções para serem trilha sonora da minha vida com alguém, mas por você eu abri mão de ''Amor Puro'' e você nem se tocou.

A cada dia que passava você ia mais e mais para longe. Me afastava com pequenos gestos e fugia de uma forma sem explicação. Quando fui ver, já não éramos mais ''nós''. Éramos eu e você. Eu em um canto, você em outro. Eu ouvindo Caetano e você ouvindo qualquer coisa que pudesse gritar aos seus ouvidos. Eu subindo as escadas e você descendo. Eu saindo dos lugares e você entrando. Eu correndo pelos becos e vielas, e você simplesmente parado, me assistindo sem expressar nenhuma emoção.

Mais uma vez eu entrara em um poço fundo e você, não jogou uma corda para que eu voltasse a superfície. Na verdade, acho que até mesmo tirou a corda de lá e me deixou sozinha, cair na imensidão da escuridão.

E quando fui ver, o outono chegara e com as folhas caindo, você partiu. Para ser mais exata, você caiu. Não do meu coração, claro, até porque para isso acontecer teremos que pedir uma ajuda a Santa Rita - Santa das causas impossíveis -, mas você acabou de cair em alguns quesitos - talvez muitos -, e ainda faltando quase dois meses para o outono acabar, você virou folha seca e decidiu ficar no chão da minha vida.