Julia era uma menina linda, do tipo que fazia todos os
cravos e espinhas presentes em seu rosto tornarem-se fofos. Do tipo que fazia
seus dentinhos tortos serem engraçadinhos. Do tipo que fazia o seu quase-projeto de escoliose ser
tolerável.
Ela possuía cabelos
escuros e cacheados que muita das vezes eram agarrados por coisinhas avulsas
que atiravam sobre a mesma como canetas, lápis, folhas e isso a irritava pois
fazia parecer que seu emaranhado de curvas era um matagal, ao invés de sedosos fios
de cabelo.
Possuía olhos negros
como a noite e um sorriso bem fofinho, que ao nosso ver dava o ar da graça de
uma ‘’japa’’- como era chamada por seu tio - bem brasileirinha.
Nem alta, nem baixa,
conseguia esticar-se para pegar as estrelas, ao mesmo tempo em que se abaixava
para ver de perto formigas em ação.
Possuía um andar
meio estranho, meio flutuante, meio desengonçado e que ficava até engraçado
devido ao seu ‘’desvio de coluna’’ – forma como a mesma adorava falar e lembrar
que não possuía escoliose – Tinha uns pés um pouquinho grandes e engraçadinhos,
dos quais ela odiava.
Julia era só graça,
Julia era só beleza e parava a praça devido a sua pureza. Mas ela não enxergava
isso, o que era uma pena e mesmo quando lhe escreviam poemas, ela desacreditava
dizendo que era bobagem, que seu físico era uma mera paisagem que o mundo
esqueceu-se de retocar.
* O texto faz parte do projeto ''642 coisas sobre as quais escrever''. Saiba mais sobre o projeto aqui. Este texto fora inspirado na primeira proposta do projeto que consiste em descrever sua própria aparência física em terceira pessoa, como se fosse o personagem de um livro. *



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