
Foto via We Heart It
Era um barzinho qualquer desses que você encontra a cada esquina da Lapa, em uma sexta à noite. Tocava samba e havia muitas risadas devido a grande quantidade de álcool ingerida pelas pessoas presentes no local. E no fundo daquele mar de gente sem graça, eu a avistei. Ela vestia um vestido com várias rosas, na cabeça uma coroa de flores roxas e nas mãos caderno e papel. Lembro-me que a observei por alguns longos minutos até que ela percebeu e retribuiu o meu olhar com um doce sorriso. Pensei em me aproximar, mas antes que pudesse cumprir tal ato a mesma se levantou e em um rápido gesto passou por mim e deixou cair uma das folhas de seu caderno.
Atordoado com tamanha beleza, logo me pus atrás de seu padeiro, levando comigo seu papel com a desculpa de que era para lhe devolver o que quer que estivesse anotado naquela folha. Corri ao seu encontro, mas já era tarde demais, ela havia entrado no primeiro táxi sem nem olhar para trás.
Fiquei na rua, no meio do nada, pensando em seu sorriso e em sua beleza esplêndida. Prometi a mim mesmo que voltaria todas as noites até aquele bar de esquina para encontrar a menina e devolver-lhe o papel como forma de agradecimento por aquele belo sorriso que ela me lançara.
Fui no sábado, domingo, segunda, terça e até na quarta que era feriado e nada de encontrar a dona da tiara de flores roxas. Na quinta marquei presença, e na sexta, quase perco o ônibus, mas consegui comparecer.
Essa fora minha rotina durante um mês, até que um dia cansado, acabei não indo. Afinal, isso havia virado obsessão. Ir atrás de alguém que nem o nome eu sabia.
Foi quando, estilhaçado no chão de meu simples quarto, avistei o papel que estava sob meu poder há um mês e por mera curiosidade, resolvi abri-lo. Nele continha um simples recado em que dizia:
‘’Você me viu em meu momento mais profundo, quando deixo as palavras tomarem conta de meus sentimentos, por isso, e pelo medo que sempre tive que me descobrissem nesse momento tão íntimo, não posso ceder aos seus encantos.
Com amor, Julia.’’
Naquele momento eu vi que a conhecia mais do que pensava, mais do que merecia e mais do que precisava. Julia me deixara ver seu interior e só os fortes conseguem continuar com alguém depois de se expor.


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