Os primeiros anos de
vida suscitaram em mim o gosto pela aventura. O meu pai dizia não saber bem o
porquê da existência e vivia mudando de trabalho, de mulher e de cidade. A
características mais marcante de meu pai era sua rotatividade. Dizia-se
filósofo sem livros, com uma única fortuna: o pensamento. Eu no começo achava o
meu pai tão-só um homem amargurado por ter sido abandonado pela minha mãe
quando eu era de colo. Morávamos então no alto da rua Ramiro Barcelos, em Porto
Alegre, o meu pai me levava para passear todos as manhãs na praça Júlio de
Castilhos e me ensinava os nomes das árvores, eu não gostava de ficar só nos
nomes, gostava de saber a característica de cada vegetal, a régio de origem.
Ele me dizia que o mundo não era só aquelas plantas, era também as pessoas que
passavam e as que ficavam e que cada um tem seu drama.
Em um desses verões,
em meio as árvores da praça, conheci Gabriela. Uma bela moça pelo o qual meu
coração resolveu bater mais forte instantaneamente. Após alguns dias nos
reunindo na praça para lermos juntos trechos do nosso querido José de Alencar,
começamos a namorar. Gabriela confessou-me que quando, na infância, fora
abusada sexualmente pelo seu pai. Este acontecimento fez subir a ira de sua mãe
que deixou a casa, o marido e o filho mais novo, levando apenas Gabriela.
Meses depois,
descobri que Gabriela frequentava um prostíbulo e quando fui pergunta-la o
porquê de tal atividade ela confessou-me que vivia com a mãe em um casebre a
quatro quadras da praça. Disse-me que a mãe portava uma doença muito grave, de
tratamento muito caro, qual nunca teriam como pagar. Mas, tomada pelo desejo de
dar uma morte digna a mãe vendia seu corpo, pois como dizia, era apenas uma garota
inexperiente, com 18 anos e o ensino básico, isso fora o jeito mais fácil que
achou para ganhar uns trocados. Perguntei-a se sua mãe apoiava tal decisão e
mais uma vez, Gabriela confessou-me, sua mãe achava que ela estava fazendo
faculdade de Português e dava estágio como professorinha em uma escola a léguas
dali. Segundo Gabriela, no começo, ela tentara tal atividade, mas devido a pouca
remuneração e o desejo por ajudar a mãe rapidamente a fizeram optar por
vender-se. Incentivada por um senhor de nome José, procurará o tal centro de
vendas humanas, como assim gosto de chamar, e inscreveu-se para tal ato.
Um dia, cheguei em
casa e corri para o quarto de meu pai, graças aos gritos e gemidos que de lá
vinham. Ao abrir a porta com força descobri que fora enganado todo esse tempo.
Mesmo tendo prometido a Gabriela que a ajudaria e cumprindo minha promessa por
meses para que ela não se vendesse, lá estava ela. Sua pele bronzeada e cabelos
cor de barro, deixando seus vestígios na cama de meu pai, senhor José.
Texto por: Julia Melo


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